20.7.09

Opa!

Se você chegou aqui por algum link velho, melhor visitar meu "novo" blog - "After the goldrush", ou a página de música do G1. Valeu pela audiência!

14.8.07

Eu vi o futuro da internet...

e ele se chama Na Laje. (Textos novos meus só por lá, ok? Mas a caixinha de news via RSS aqui do lado continua como sempre).

26.6.07

I´m Not So Naive

Tá certo que eu já passei da idade de ouvir algo como Paramore, mas dado o "estado das coisas", músicas (e letras) como "For a Pessimist, I´m Pretty Optimistic" até que fazem sentido. E a Blender tem razão: a vocalista Hayley Williams "é a vingança em pessoa, calçando um par de All-Star tamanho 34".

24.5.07

Fazendo a sueca

Que capa do NME e blog da Ivete Sangalo que nada, o lance do CSS é a invasão sueca (certo, Danilo?) . Link da Helô. [Atualização: saiu hoje uma lista de shows do CSS pela Europa e outros cantos do mundo - especialmente um MONTE de apresantações abrindo pra Gwen Stefani. Issa!].




10.4.07

.22

Eu sei bem que você ainda gosta daqueles textos temáticos - aquela besteirinha que eu "inventei" quando ainda estava na faculdade, uma desculpa para escrever sobre música com alguma periodicidade e sem nenhuma notícia bombástica nem teoria mirabolante - só pegar umas canções que tenham letras tratando de temas parecidos.

Então começo hoje com duas canções - só uma visitada rapidinha a esse passado que sempre teima em aparecer, seja na primavera ou no outono. De cabeça, lembro de duas músicas que citam o número 22 (ou, como diriam os locutores de bingo, "dois patinhos na lagoa") em relação à idade. A mais antiga é "Lost Highway", que as pessoas costumam lembrar na voz do gênio country Hank Williams (mas que também teve versões de Bob Dylan, de Jeff Buckley e mesmo de Artur Franquini), e que foi composta pelo músico (cego) Leon Payne. Antes que a doença lhe tirasse a visão, Payne atravessava os EUA de carona em carona, arranjando pequenos empregos nas cidades onde parava. Quando, certa vez, estava na Califórnia, precisava visitar sua mãe, adoentada, no Texas. Sem conseguir uma carona, acabou recebendo o auxílio do Exército da Salvação - e enquanto esperava, acabou compondo "Lost Highway".

A história contada e recontada em "Lost Highway" é velha: o rapaz decente e temente a deus acaba enveredando pelo caminho do pecado e se perde por lá para sempre. A versão de Williams, que ficou gravada na memória da música pop, refletia um desespero misturado com resignação - de certa forma, um tanto a ver com as canções de corno com as quais ele ficou conhecido, porém com um viés mais dramático ainda. E então, na terceira estrofe, ele irrompe: "Eu era apenas um rapaz, com quase 22", e então põe o ouvinte em seu lugar - "Nem bom, nem mau, só um guri como você", só para, depois, lembrar do quanto irremediável é a situação: "E agora estou perdido, tarde demais para rezar/ Senhor, eu paguei o preço, na estrada perdida".

Na outra ponta, quase do outro lado, nós temos o Iguana capitaneando seus Patetas. Na Detroit de 1969, o sonho hippie chegara natimorto. A cidade dos motores, além da linha de fábrica de sucessos da Motown, também acabou por parir uma geração de garageiros com gosto pelo barulho alto, onde o ronco dos veículos da Ford confundia-se com as guitarras estridentes do MC5 e dos Stooges. Estes últimos tinham à frente o palhaço mais perigoso do rock, James Osterberg, lenda viva que entrou para a história sob a alcunha de Iggy Pop. O homônimo álbum de estréia dos Stooges polarizava-se entre a explosão de energia sexual ("I Wanna Be Your Dog", "TV Eye") e a energia destrutiva do tédio - de "No Fun" e "1969".

Esta última traz as previsões do "tarólogo e astrólogo" Iggy Pop para o ano de 69, e, diferente de Serge Gainsbourg que imaginava aquele como o "Anne Erótique", Iggy parecia bem mais perto da realidade: "É 1969/ Em todos os EUA/ Mais um ano para mim e para você/ Mais um ano sem nada para fazer", parodiando as canções de ano novo com feroz apatia. E então lembra do próprio envelhecer: "No ano passado eu tinha 21/ E eu não me diverti muito/ E agora eu vou ter 22/ E digo, 'ah meu' e 'bu-hu'". Não sei se dá para dizer que 1969 foi um ano bom para o velho Iggy - bom, foi naquele ano que ele pegou gonorréia da Nico, então você que tire as conclusões por si mesma.

22 é uma idade confusa, é aquele momento em que a gente passa a se cobrar por cada pequeno detalhe, é aquela época em que você nunca sabe se está no caminho certo ou errado, é quando a gente imagina que somos as únicas pessoas do mundo que não estão "dando certo". De repente você está lá, adulto sem ter pedido para isso, adolescente sem paciência para a adolescência - cambaleando de um lado para o outro, entre a inocência perdida e a maturidade recém-adquirida, entre o excesso de diversão e o tédio da falta de excessos.

Como eu te disse no ano passado, não tenho muito a te prometer, exceto um TCC difícil, uma vida na rodoviária (patrocinada pela Garcia), dias de faraó e noites de cerveja, uma corja de londrinenses (residindo ou não aqui), fumaça e neblina, alegrias e decepções, mais um Avesso, compras a prazo e o empréstimo do cartão de crédito, dormir tarde, acordar cedo e dormir de tarde (mas só no finde), metrô, táxi e caronas erradas no teu Celta. E saiba que eu estou aqui te esperando para a hora que você quiser, e vou contigo para onde você imaginar. Estou do teu lado o tempo todo - no MSN, no Google Talk, por-email, SMS, sinal de fumaça ou telepatia sincrônica, estamos nessa juntos, para o bem e para o mal, riqueza, doença, saúde ou pobreza. E como sempre, I´m only here to love you.

20.3.07

O sorriso da noite passada - duas músicas e cinco anos

Em tese, 2000 foi o ano em que a tensão pré-milênio dissipou-se num vazio de apreensão, onde, parece, NADA aconteceu. No Brasil a farra da indústria fonográfica já tinha arrefecido - começava a ressaca do período FHC, e naquele momento, nenhum dos modismos musicais que dominaram os anos 90 (o trio axé-sertanejo-pagode) parecia dar conta de repetir as vendas anteriores. Nos EUA também pouca coisa parecia acontecer: o fenômeno nü-metal arrastava milhares de adolescentes para a estupidez institucionalizada, enquanto o quase-na-UTI gangsta olhava com espanto aquele garoto branquelo de cabelos curtos e loiros posar de "novo Elvis" - posição que ele, Eminem, declararia a sério em "Without Me".

O mundinho indie voltava a crescer, dessa vez impulsionado pela internet (na velocidade "conexão discada"), com as ferramentes que caíam à mão - uma lista de discussão aqui, outro fórum ali. Os blogs, fotologs, videologs, wikis, redes sociais e todos os outros publicadores de conteúdo que dariam vida ao conceito de Web 2.0 ainda eram meros potenciais. O mp3 já existia, mas a baixa velocidade na hora de converter um arquivo de áudio para o formato e também a deficiência de tráfico - sem contar que o tamanho dos arquivos ainda era um pouco grande para a época, faziam mais sucesso como promessa do que como realidade.

Até que um programa criado por um calouro na Northeastern University (Boston, EUA) como trabalho de faculdade começou a ficar mais e mais popular. O Napster conectava você a outros usuários em todo o mundo, cada um com a sua pasta de mp3 e outros arquivos compartilhados. Através de um sistema de buscas razoável, você podia achar a música que quiser - bom, mais ou menos, mas era bem melhor do que qualquer coisa disponível até então.

É claro que o primeiro impacto, visível, foi econômico - e foi assim que o Metallica processou seus próprios fãs. Porém o outro maior efeito é que nos interessa aqui: o Napster começou a derrubar as fronteiras da música geograficamente também. Ao combinar a mídia virtual, não-física, com um rudimento de lógica p2p (peer-to-peer, uma rede descentralizada onde cada usuário faz as vezes de provedor), o Napster tornou virtualmente possível (em ambos os sentidos) que qualquer usuário tivesse acesso à qualquer canção já gravada.Um dos fenômenos que se seguiu foi o do "vazamento do álbum", cuja inauguração se deu com o esperadíssimo Kid A, do Radiohead - que fica pra outra história: aqui eu queria lembrar do fenômeno Strokes.

Desde que um pedaço de chumbo quente em alta velocidade tinha atravessado os miolos de Kurt Cobain, arrastando tudo que conseguisse pela frente, o rock alternativo procurava um substituto, um novo Nirvana. A imprensa especializada tentara vários candidatos, mas parecia que rock não seria o tipo de coisa que tão cedo voltaria à moda - o que de fato aconteceu e ainda acontece. O boom do rock independente, porém, gerou diversas cenas alternativas (Brasil incluso) que, a partir dos 00, iriam aprender novas formas - aliadas à novas tecnologias - de se relacionar com seu potencial e real público. O que talvez ninguém esperasse era que seria uma dessas bandas indies - mais especificamente, uma banda de garagem novaiorquina - que iria liderar a revolução musical da Rede.

Desde que se conhece por gente, a imprensa musical britânica é, antes de tudo, uma fábrica de hypes, no sentido mais literal possível, o de hipérbole. A quantidade de artistas e bandas que foram considerados "the next big thing" pelos escribas bretões e acabaram, por fim, virando totais desconhecidos, é incontável. Por isso, muita gente já garantia uma pulga atrás da orelha de vantagem quando o NME e seus correlatos começaram a falar desses cinco garotos retrô-moderinhos e seus tênis All-Star. "Descobertos" na segunda metade de 2000, logo os Strokes estariam lançando seu primeiro EP, em janeiro de 2001, pelo selo inglês Rough Trade (casa dos Smiths e outras estrelas indies).

E foi aí que o hype atravessou as fronteiras. O caminho normal seria os Strokes lançarem o EP inglês, e então, só um ano mais tarde (como, por fim, aconteceu) chegariam com seu álbum completo ao Brasil e ao resto do mundo (exceto os EUA, onde o EP seria lançado alguns meses depois). Para sacar qual era a do hype, ou você precisaria de um bom tanto de grana para comprar o disco importado (em LIBRAS), ou de algum amigo rico com bom gosto de quem você pudesse copiar, para uma fita cassete (os gravadores de CD ainda estavam engatinhando) a suposta maravilha musical vinda do Norte.

Só que, quando chegaram os Strokes, a paranga digital já estava em pé. Depois de umas duas ou três benevolentes almas inglesas passarem as três músicas do EP ("The Modern Age" [faixa-título], "Barely Legal" e "Last Night") o efeito viral do p2p começo a girar as engrenagens, e logo eu, no meio do nada, e mais um monte de gente no meio de tantos outros nadas, estávamos de ouvidos colados nas precárias caixas de som do computador para ouvir as letras obscuras, no conteúdo e na forma, de Julian Casablancas.

Ao mesmo tempo em que eu ouvia a bateria reta e os acordes repetitivos dos Strokes, no comecinho de "The Modern Age" o indie como o conhecíamos começava a desmoronar. Dali para a frente não teríamos amis uma casta de nerds, que ou tinham muita grana ou simplesmente torravam tudo o que tinham para ter o "melhor" da produção mais obscura do mundo. Aquela hierarquia baseada em quantos discos importados você tinha - o que significava que era a informação que você dispunha - deixava de fazer sentido. E Casablancas balbuciava: "Uppon a hill/ Is where we begin/ Let´s tell a story". O disco era uma maravilha, mal gravado e abafado na medida para qualquer fã de punk novaioquino ou de indie lo-fi (na verdade, os dois ao mesmo tempo) ficar babando. "The Modern Age" era arrastada e excitante, "Barely Legal", em versão embrionária, começava e parava, instigando - "I just want to misbehave/ I just want to be your slave": Julian adiantava a rima que faria Justin Timberlake "bring sexy back".

Mas aquela terceira canção, ahhhh, "Last Nite" (ou "Night", seilá). Guitarra sozinha, repetindo o acorde. Entra bateria, outra guitarra, baixo, um por vez, como se fosse introdução de música do Iggy Pop (aquela, você sabe). Quando você acha que eles vão se manter no instrumental, uma porrada em cada prato e lá vem o Julian, cantando com a boca encostada no microfone: "Last night, she said/ Oh baby I feel so down". A canção seguia entre o hipnótico e o empolgante - ninguém imaginaria que a "Smells Like Teen Spirit" do século XXI seria tão linear. Como Casblancas dizia no refrão, mais calmo que nas estrofes, "In spaceships they won´t understand". Quer melhor começo de século que isso?

2006. A estrutura mutante da web assumiu uma configuração mais próxima daquilo que os profetas da tecnologia imaginavam para ela. Agora sim, blogs, fotologs, Youtube, MySpace, orkut, P2P, torrent, já eram termos cotidianos, e mais, eram importantes, falavam (quase) tão alto quanto a grande mídia. Todo mundo podia estar perto de todo mundo, trocar e-mail com seus "ídolos", lançar músicas, remixes, besteiras via internet. De vídeos caseiros e blogs emos ao IQONS ("o MySpace da moda", dizem) e o editor de texto do Google, nunca a humanidade viu tanta besteira ao mesmo tempo - e também nunca viu tantas coisas boas ao mesmo tempo.

Uma inglesa baixinha, um pouco acima do peso, faz algum barulho. Talvez mais barulho que sua voz delicada pudesse causar em meios arcaicos. De certa forma, ela não é tão diferente de Julian Casablancas: ela é filha de alguém, no sentido brasileiro de ser filho - ascendência importante. Talvez estivesse mais perto de Albert Hammond Jr., guitarrista dos Strokes: o filho do cantor/compositor inglês Albert Hammond (criador do tema-oficial das Olimpíadas de Seul, cantado por Whitney Houston e de mais alguns sucessos de Tina Turner nos anos 80 - e que fez relativo sucesso no bittersweet dos anos 70) pudesse ser mais íntimo da filha do comediante e ator Keith Allen (co-compositor do hit "World In Motion" com o New Order e coadjuvante dos longas Cova Rasa e Trainspotting, entre outras peripécias) e da produtora de cinema Alison Owen (Sylvia e britanices do gênero).

Lily Allen é filha da aristocracia hipster bretã, é verdade - não tanto quanto Julian Casablancas é filho do dono de uma das maiores agências de modelos do mundo, a Elite Models de John Casablacas. Não que os caminhos tenham sido tão diferentes: enquanto a mais velha do novo clã Allen traficava ecstasy em Ibiza, o jovem Casablancas, criado pela mãe, e com um período de rehab alcoólica patrocinado pelo pai (na Suíça, diga-se), recém havia se libertado do trabalho de bartender para se tornar um rockstar no alvorecer do novo século.

Porém, Casablancas não teve nenhum mérito na migração dos Strokes do "fétido" circuito de clubes undergroud novaiorquinos para o estrelato mundial via Internet. Eram os "fãs" que faziam o "trabalho sujo" - a um repórter brasileiro, o baterista quase-tupiniquim Fabrizzio Moretti declarara que "há meses o Julian não chega perto de um computador" (quando indagado sobre uma "entrevista por e-mail" que outro "respeitado jornalista" havia realizado com os Strokes).

A garota, porém, não tinha nenhum pudor em ter a rede a seu lado. Não que a invasão fosse planejada: em cada tópico do MySpace dela, seguia um pedaço de coração. O que Lily Allen fez foi transformar cada uma das arquetípicas afirmações de uma mulher moderna fosse transformada em canção. Com uma força que ultrapassa (perdoem-me, assim como o faço) Chan Marshall, Lily passava por cima das besteiras consumistas de qualquer Sex And The City para atingir um âmago pós-feminista onde a dança (território feminino) supera a "atitude".

Para os tablóides ingleses, o sucesso da garota Allen pode ser inusitado - suas primeiras canções de sucesso ("LDN" e "Smile"), ao lado dos Future Cutz, principais produtores do álbum Alright, Still, são, pasmem, uma revitalização do two-tone inglês que fez os Specials parte da new-wave quando tudo o que eles queriam era mostrar que, dos skinheads ao Clash, a cultura proletária inglesa era, a priori, menos racista e muito mais divertida - e que a Jamaica é, culturalmente, uma ilha tão importante quanto aquela outra ainda governada pela Rainha.

Parte do trunfo de Allen reside em ser simplesmente humana - ao invés de exalar aquela fragância cool de Casablancas, alternando fleuma e explosão em letras crípticas, Lily posa como um escancarado profile de orkut, reclamando, fazendo planos. Exatamente ao contrário da celebridade "olimpiana" de Edgar Morin e outros teóricos franceses, Allen assume o papel mais próximo, como uma integrante de um reality show que parece "gente como a gente" - ela reclama das revistas que falam que as mulheres devem perder peso, mas também queria ser parecida com a Kate Moss ("Everything Is Wonderful"), reclama do irmão maconheiro ("Alfie"), espera na fila para entrar na balada ("Friday Night") onde vai ter que se virar com aqueles tipinhos masculinos chatos ("Knock'Em Out"). Num disco que parece uma compilação de posts de um blog de uma garota comum, Allen bagunça ainda mais a distância entre fã e artista - e todo mundo vira amigo no final, nem que seja via MySpace.

A distância de cinco anos entre "Last Night" e "Smile" parece remontar séculos. Entre o brado da ressaca moral e física de Casablancas e sua volta ao rock e o desprezo balançante de Allen pelo ex-namorado, existe uma evolução radical nos meios de se produzir e distribuir música - você pode achar que é a concretização das promessas do punk ou que é a verdadeira ascensão da cultura do DJ, mas o que importa é que, desde a invenção da gravação, nunca a promessa de que "você nunca mais vai escutar música do mesmo jeito" fez tanto sentido.

25.11.06

Eles não querem usar burkha

São cinco – três guitarras, baixo, bateria, três dos caras têm um microfone na frente. Era o último dia de Demo Sul, e ainda tinha bastante sol, o que, somado à poeira vermelha da chácara isolada da civilização, dava um toque de Woodstock ao festival. No palco, A VI Geração da Família Palim do Norte da Turquia (desculpe-me, leitor, mas eu não vou abreviar esse nome, certo?), os cinco caras que, apesar de se referirem a si mesmos como “Família” e jurarem que são irmãos, não tem nada de parecido. Especialmente se você reparar no fato de que o “mini-me” de Charles Bronson e guitarrista inquieto Hassem Palim deveria ter alguma ligação genética com o gigantesco Hassanz Palim, gritando no microfone ao lado.

Se você ouvir A VI Geração da Família Palim do Norte da Turquia em álbum (é mp3, mas é um álbum) você vai achar alguma semelhança com os Titãs dos anos 80, especialmente em canções como “Aos 19 dias do mês de setembro de 1993” (que, apesar do que é dito na letra, não foi um ano bissexto) e “O Papa Tem Artrite”. Porém, ao vivo, a banda concentra faíscas e eletricidade, e transforma seu pós-punk tupiniquim numa versão hard de bandas como The Fall e Gang Of Four – trocando o funk branco por diversão.

Sim, eles estão se divertindo no palco. Mas as letras, acima de tudo, falam de negação, baseiam-se no contrário. Se nos anos 80 ainda existia algum “perigo comunista” e escolher como nome para sua banda a “Camarilha dos Quatro” que deu início à Revolução Chinesa fosse, ao mesmo tempo, uma declaração de princípios e uma provocação deliberada, no mundo pós 11/09 a única rebeldia eficiente e a única tática de choque razoável é se vestir com a perigosa indumentária do Oriente Médio e criar uma mitologia familiar fake de um clã do norte da Turquia.

“Karl Marx Não Mora Mais Aqui” é um exemplo de toda essa inversão sobre o próprio pós-punk. Um riff lento carrega toda a música, junto com a bateria reta e quadrada. Os barulhos começam a crescer, e Hassanz canta “A servidão da maioria alimenta o luxo dourado dos poderosos”, para, em seguida, afirmar uma outra luta de classes: “Aristocratas versus proletariado”. Marshall Berman, em seu estudo sobre a modernidade Tudo o que é Sólido se Desmancha no ar, considera Marx como um dos maiores enaltecedores da classe burguesa, citando trechos do Manifesto do Partido Comunista (escrito com Friedrich Engels) como “A classe burguesa, historicamente, desempenhou num papel revolucionário”. Não que Berman considerasse a classe burguesa a verdadeira classe revolucionária, mas apenas demonstra como Marx respeitava os feitos burgueses até aquele momento. Porém, a América Latina de veias abertas nunca presenciou uma classe burguesa progressista e empreendedora – e o conflito muda, para uma aristocracia feudal contra um proletariado inconsciente. Mas A VI Geração da Família Palim do Norte da Turquia desiste da revolução, tira as armas de Brixton das mãos do Clash e as entrega para os EUA: “O gatilho não vai falhar/ Quando chegar a sua vez”. Três frases crescem, a música se tensiona entre a luta, a negação de Marx e a afirmação que abre a canção – não temos saída, para sempre “a servidão da maioria alimenta o luxo dourado dos poderosos”.

Esse é o tipo de lógica, baseada na oposição e na negação, que perpassa toda a produção da banda. Por um lado, corrobora da piada de internet para fazer uma canção de amor à la “Sandina” (clássico dos Replicantes escrito pela lenda Jimi Joe) em “Acre!? Que porra é essa?!”, ou então questionam o racismo no Brasil através do sistema de cotas em “Fodam-se as Cores”. “Cardoso´s Song” pertence à longa cadeia de canções metalingüísticas da história do punk em celebração à simplicidade (ou, no caso, de negação ao virtuosismo) enquanto “1969” revive a teoria da conspiração, lembrando que “Neil Armstrong nunca soube voar”.

A negação da VI Geração da Família Palim do Norte da Turquia não é a mera birra adolescente dos Ramones – na verdade, estão desconstruindo aos poucos, e com ironia, o mundo que lhes foi dado – negando sistematicamente os supostos progressos da ciência, da sociedade e mesmo do rock, estão provando para si mesmos que não é esse tipo de realidade que esperam. O instrumental é sempre tenso, baseado no diálogo (ou seria discussão?) entre guitarras aos berros, que absorvem tanto elementos do rock’n’roll (“A rua Melvin Jones”) quanto indie rock de arena (“James, o andarilho solitário”) para criar uma parede de execução, onde os condenados são as idéias velhas. E assim, aprendemos que um “NÃO” bem dado vale muito mais que qualquer afirmativa besta, dessas que vêm em torrentes por esses tempos.

25.10.06

Where have all the good times gone?

Demorou, mas chegou – finalmente parece primavera em São Paulo. Vá lá, não uma primavera foda como em Londrina, e sim uma primavera naquelas... Quem leu com alguma regularidade um dos trinta e cinco ponto dezoito blogs que eu já tive, provavelmente conhece minha obsessão com as estações climáticas intermediárias, outono e primavera. Eu li uma entrevista da Lovefoxxx (que, junto com o CSS, parece cada vez mais longe, no bom sentido) para a Sexy onde ela fazia uma lista de 10 dicas sobre como ter um relacionamento legal. Uma delas era a de marcar os bons momentos, as épocas legais, com coisas específicas e que ao mesmo tempo não sejam óbvias. Ao invés de fotografias, perfumes, ao invés de cartas, uma luz específica. “Putz!”, pensei. Essa luz específica é um fenômeno incrível que ocorre sempre nessas estações intermediárias – com certeza associada a um conjunto de substâncias químicas no ar que geram um cheiro diferente. Aliás, o olfato é um dos sentidos que contêm a maior carga de memória afetiva.

Sempre, na primavera e no outono, eu fico nostálgico. Mas é uma nostalgia indescritível, tem mais a ver com um desembaraço das linhas do tempo linear. Com aquela luz específica incidindo sobre as árvores, com o aroma estranho no ar (feromônios?), meu cérebro mistura presente, passado e futuro num estado de superposição incoerente. E por isso eu sou obcecado por essas estações, por causa dessa maldita sensação, melhor que qualquer droga, melhor que qualquer coisa – eu imagino que essa seja a realidade verdadeira, e não aquela que está fazendo barulho na Paulista agora.

Eu costumo associar esse sentimento estranho à nostalgia porque ele também ocorre em algumas situações diferentes do relatado. Músicas que marcaram uma época também me arrancam da realidade consensual e me colocam num mundo que não é nem o ontem, nem o amanhã. Nem lugar, nem tempo. O mais interessante é que existem músicas que se propõem a certa nostalgia, cada uma à sua maneira. Cada artista interpreta suas próprias lembranças de um jeito muito pessoal (não brinca!), mais pessoal que o amor ou o ódio.

Para os Ramones, a nostalgia, o passado, é sagrado. Se possível fosse para esses quatro cabeludos (especialmente para o Joey), nós estaríamos para sempre vivendo na adolescência deles. Pelo menos é o que se ouve em “Rock´n´Roll Radio”. Começando como um dial confuso, onde vozes de locutores AM se trombam, se atraem e repelem, um desses homens do rádio anuncia: “This is Rock’n’Roll Radio, with the Ramones. Come on, let´s go!”. Canção de abertura do disco End of a Century, produzido por Phil Spector (Ronettes Beatles), “Rock´n´Roll...” foi o segundo single tirado do álbum.

As gravações do quinto disco do Ramos foram tensas: Phil Spector nunca foi um produtor fácil de se lidar, um perfeccionista que entrava em constante conflito com os práticos Ramones. Apenas Joey, grande apreciador dos girl groups que Spector produziu durante os anos 50 e 60, conseguiu se dar bem com o produtor. “Rock´n´Roll Radio”, de qualquer forma, é o melhor encontro entre os gênios opostos. Após o locutor, entra a levada de bateria que marca a música. Caixa, prato, chimbau, e uma porrada de órgãos sobrepostos formando um riff quando você menos espera. Entram metais, guitarras e cordas, e aí está mais um perfeito wall of sound, especialidade de Spector.

Mas, mantendo o espírito Ramones, Joey canta mais um grito de guerra (são tantos nessa religião) com a voz rasgada: “Rock´n, rock´n´roll radio, let´s go!”. A música cresce, e quando parece que vai descambar para a barulheira, tudo muda para uma escala assobiável, que lembra as linhas de baixo do começo da história do rock. Por cima da cama de instrumentos, Joey vai recrutando todo as suas memórias musicais infantis, começando pelos programar de rádio e TV: Hullaballoo, Ed Sullivan, Upbeat, Murry the K, Alan Freed. O fim dos anos 70, o fim do século, e, acima de tudo, o fim do rock. Com as versões pasteurizadas da disco e do punk tomando as paradas, realmente parecia o fim do mundo para um garoto que acreditava tanto em sua própria infância.

Depois de lembrar-se de ouvir o rádio com a cabeça debaixo das cobertas, Joey conclama: “Nós precisamos de mudança/ E precisa ser logo/ Antes que o rock vire parte do passado/ Porque ultimamente tudo parece a mesma coisa para mim”. A letra vai até alguns heróis do excesso (um por geração – Jerry Lee Lewis, John Lennon e o T. Rex de Marc Bolan), e volta à nostalgia. Com muita fé na própria infância, joey não é só o garoto que não que crescer, mas que também não quer que nada a sua volta mude. Muito tarde, rapaz, as coisas mudaram bastante, e muitas delas por culpa sua. É a vida.

A mesma cultura gay norte-americana que nos deu a disco nos anos 70 também é, em boa parte, responsável pela revolução eletrônica ocorrida no final dos anos 80 na Inglaterra (a outra parte da culpa fica com o ecstasy). Descendentes do synth pop do começo daquela década, a dupla inglesa Pet Shop Boys aos poucos se misturou a onda clubber que dominou a Grã-Bretanha nos anos de 88/89.

Um dos efeitos mais interessantes do ecstasy, segundo Matthew Collin, autor de Altered State – The Story of Ecstasy and Acid House, são os quatro estágios do uso regular da droga. Primeiro, a euforia, a sensação única. Depois, o abuso, quando o usuário tenta atingir aquele mesmo patamar inexplicável da primeira vez em que ele experimenta o MDMA. Depois a decepção, ao perceber que aquilo tudo nunca vai voltar, e então a re-entrada no mundo pós-ecstasy, onde o ex-usuário procura o equilíbrio (eu sei, isso não é bem assim, mas não é isso que está em discussão aqui). “Being Boring”, faixa de abertura do álbum Behaviour (1990), dos Pet Shop Boys, tem muito a ver com esse último estágio.

Beats leves, aqueles bem típicos do pop do começo dos anos 90, a melodia lenta que guia a música tocada no sintetizador analógico (Behaviour foi um álbum atípico, onde os Pet Shop Boys resolveram trabalhar apenas com instrumentos não-digitais), alguns efeitos com um pouco de brilho abrem a canção. Com sussurros, o vocalista Niel Tennant faz suas próprias descobertas: “Eu achei uma caixa de velhas fotos/ E convites para festas de adolescentes/ Um deles dizia, ‘vista-se de branco’, e tinha uma citação/ Da esposa de alguém, um escritor famoso/ Dos anos 1920”. A esposa em questão é Zelda Fitzgerald, esposa de Scott Fitzgerald e também escritora, foi uma das mulheres mais importantes dos anos 20, para muitos, o arquétipo da “melindrosa”. A citação a qual Tennant se refere provavelmente é um trecho do ensaio “Elogio à Melindrosa”, escrito por Zelda e publicado em junho de 1922 na Metropolitan Magazine. Ali, ela dizia que a melindrosa “se recusava a ser entediante acima de tudo porque ela não era entediente” (“She refused to be bored chiefly because she wasn't boring”, você pode achar um trecho maior aqui). Tennant prossegue: “Quando você é jovem, você acha inspiração/ Em qualquer um que já se foi/ E, abrindo uma porta fechada/ Ela disse: ‘Nós nunca nos sentíamos entediados”.

Uma das principais teorias a respeito de “Being Boring” é de que a música retrata o hedonismo da época pré-Aids. No final, não estamos falando sobre Aids, sobre o fim do verão do amor, estamos falando sobre crescer, ter responsabilidades, e ainda assim, saber que não somos entediantes, nem entediados. “Agora eu sento com diferentes caras/ Em quartos alugados e lugares no estrangeiro/ Todas aquelas pessoas que eu beijava/ Algumas estão aqui, e outras estão perdidas/ Nos anos 1990”. Ir embora para sempre é uma opção, para a morte e para a vida. A nostalgia de “Being Boring” é construtiva e ao mesmo tempo deprimente – enquanto nos lamentamos porque nunca mais seremos os mesmos, aprendemos que nada temos a nos arrepender sobre o tempo em que fomos aquelas pessoas, pelo contrário, nosso passado é motivo de orgulho. “Porque nós nunca nos entediamos/ (...) E nunca nos preocupávamos se o tempo chegaria ao fim”.

As duas músicas acima foram escritas/lançadas na virada das décadas, quando, as vezes, lamentamos tempo que se foi e enchemos de esperança os anos vindouros. Agora a virada não é apenas de década, falamos de século, milênio. Os Strokes foram a primeira banda de rock a ter alguma exposição midiática nos anos 2000. “Someday” fecha a primeira metade do álbum de estréia dos guris de Nova York, Is This It (2001). Duas batidinhas na caixa e uma guitarra com distorção valvulada, dois acordes, deixa morrer, dois acordes, tudo rápido. Sem crescer, mas também sem assustar, outra guitarra e o baixo. O vocal de Julian Casablancas entra um pouco enterrado entre os pratos surrados sem dó. Com aquele jeito arrastado, alternando o cool e o visceral, canta “De muitas maneiras, sentiremos saudades dos bons velhos tempos/ Algum dia/ Algum dia”. Não há tempo a perder. Porém, a nostalgia de “Someday” se faz no agora, e se previne de um futuro de lamentações. Ao invés de olhar pra trás e lamentar, ou desejar aquilo para o presente, os Strokes sabem que a nostalgia se faz do agora, e não deixam nada para trás.

“Quando éramos jovens, cara, a gente se divertia/ Sempre/ Sempre”, ironiza Julian, recém entrado na casa dos vinte. Invertendo o sentimento, promete: “Algum dia/ Eu não estarei mais perdendo tempo”. Param as guitarras, baixo e bateria, e Casablancas sussurra “Tente de novo/ Tente de novo”, para tudo voltar como antes, e fechar bruscamente. Sem medo de criar um passado, os Strokes seguem em frente, sabendo o que já foi feito e apontando na direção de um eterno presente. Se isso acontece porque eles são novos demais (todos somos), só nos resta experimentar. E chega de saudade.

11.7.06

Wouldn't you miss me at all?

Pois é, o Syd Barret morreu. E agora é SÉRIO.

Descansa, guri, descansa...

10.7.06

Fashion victm

Aí, gurizada, tem uma matéria minha abrindo o podcast do Trama Virtual essa semana.
Baixaí!